sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Antropologia ou antropofagia?

Olha como as aulas dessa semana me serviram para reflexão.

O texto abaixo eu comento um trecho de uma dissertação de Francis Wolff a respeito de uma possível definição para "Civilização e barbárie".

Hoje na aula de Antropologia Teológica, meu querido professor Lindolfo provocou-nos apresentando algumas definições para aqueles que buscam a "verdade" ou um "sentido da/na vida" a partir de duas vertentes ideológicas: os fundamentalistas e os relativistas.

Pra quem não sabe: fundamentalistas são aqueles que impõe uma verdade a força enquanto os relativistas são os que acreditam na ineficácia do ser humano de chegar a alguma verdade.

Fazendo uma breve discussão sobre como o relativismo não é uma resposta ao fundamentalismo e sim uma forma de, talvez, chegar em uma imposição de verdade, mas não a força, ele levantou a seguinte questão: "Para os relativistas, não existe verdade e as coisas são assim mesmo e tanto faz, cada um vive como quer e como acredita ser que a vida deva ser". E com esse pensamento ele nos provocou com um exemplo simples "a poligamia pode ser vista por um cristão de forma errada, ou seja, ela pode ser um ato contra uma fé, contra um Deus a tal ponto que essas verdades se confrontam. A partir do momento que eu assumo um pensamento relativista, eu devo ter uma visão crítica a partir dos meus valores pessoais mas saber respeitar a cultura externa. O cara tem quatro mulheres, eu acho errado mas eu respeito, pois eu sei que ele cresceu com a cultura de que o homem pode e em alguns casos deve ter quatro mulheres".

Tendo essa idéia em mente e juntamente com minha aula sobre "Civilização e barbárie" eu levantei o seguinte questionamento: "Até que ponto respeitar a cultura alheia é uma forma de aceitar o valor da vida humana?" como exemplo, usei os homens-bomba, já que a "missão" deles é simples: morrer em sacrifício a um deus e, com isso, matar outras pessoas que são pecadoras pois seguem outra filosofia de vida, dessa forma, o homem-bomba obtém o 'perdão' ou 'salvação' ou 'sei-lá-o-quê' divino e ainda liberta as almas que estavam pecando por "não fazer parte da mesma linha religiosa/ideológica". Até que ponto eu posso respeitar uma cultura que ameaça vidas, até então, inocentes pelo simples fato de essas pessoas acreditarem que estarão libertando as vítimas?

Tomar uma atitude suicida da qual outras vidas são sacrificadas sem que elas optem pela morte é, pra mim, uma visão fundamentalista de que a verdade é essa "morra e se liberte" e isso invade a minha liberdade de buscar a minha verdade, ainda que longe dessa de que, pra eu me salvar eu deva explodir vinte, trinta pessoas.

Relativistamente falando: eles não são detentores da verdade, então deixa que eles explodam algumas mil cabeças de pessoas que querem continuar a viver livremente mundo a fora.

Mas, como eu posso aceitar uma coisa dessas? E se eu não acreditar que existam 7 virgens me esperando no paraíso?

Morrer por atentado de homem-bomba me parece uma morte muito injusta: eu levo minha vida, não faço mal a ninguém, se eu for pai de família, trabalhador, de uma hora pra outra minha família pode entrar em ruína pelo simples fato de que uma pessoa resolveu me "salvar" sem que eu tivesse tal conhecimento. Então, ele ajudaria minha alma mas destruiria minha família? Que tipo de salvação é essa?

E mais, que tipo de pessoas nós somos a ponto de aceitar que isso cresça cada vez mais no mundo e ninguém estabelece um acordo de paz?

Se eles querem se matar e levar gente com eles, que morram as pessoas de mesma ideologia, por que eu não quero ter minha vida interrompida porque alguém decidiu me "salvar"...

Agora sim eu entro na questão: quem é civilizado? Quem é bárbaro?

Pode parecer meio autoritário e preconceituoso todo esse meu discurso mas eu assumo: eu também tomo atitudes bárbaras dia-a-dia; mas até que ponte desrespeitar a minha posição de "verdade" ou "sentido da vida" tirando a minha oportunidade de viver é civilizado?!





World in Danger...

Um comentário:

Luiza Judice disse...

É uma questão complicada.

O terrorismo que uns praticam tirando a vida de outros ("salvação") resulta, no fim das contas, na mesma coisa que certas ações políticas, embargos, atitudes neoliberais causam à certas pessoas: morte.

Acho que as milhares de pessoas que morrem diariamente por causa de fome, saúde etc, são vítimas de um outro tipo de terrorismo, talvez mais grave e mais profundo.

Anyway, concordo com a sua posição...

World in a SERIOUS danger.
:*