Cheguei no domingo dez e meia da noite e fiquei com preguiça de postar...
Na verdade eu ainda to, então vo posta o final do meu conto
O Espirro (Parte II)
Frio na espinha, suor frio escorrendo pelo rosto, “grão de pó” de giz estacionado na narina, fluxo contínuo de atmosfera pra dentro do pulmão, torpor momentâneo, candomblé, umbanda, Pomba-Gira, Jesus Cristo...
AMÉM!
Propulsão a jato!
Zilhões de gotículas e bactérias e escarro saíram de dentro da minha boca e se perderam pelo ar, num ritual escatológico e muito mal trabalhado. Poderia ter tido oferenda, reza, e todas essas coisas de rituais religiosos.
Tinha um cidadão na minha frente que foi a maior vítima da minha arma mortal, espalhando a praga por toda a sala, numa velocidade de próximo dos cento e vinte quilômetros por hora.
_Mas que caralho!
Gritou o cidadão da frente, que eu conhecia muito bem.
_O que é isso, menino!
Gritou a professora lá do canto da sala.
_Saúde!
Alguém gritou de lá do fundo...
Enquanto a sala se espantava com minha opção religiosa pela “Escatologia Avançada” que prega rituais em locais públicos, como uma sala de aula, e que chega sem nem avisar, o torpor fazia efeito a mil na minha pobre cabeça.
_Saúde... saúde... saúde...
Essa palavra ecoava na minha cabeça. O deus da Escatologia talvez não pensou nisso no momento que fez com que o maldito “grão de pó” de giz voasse diretamente até a minha narina.
_SAÚÚÚÚÚÚÚÚÚÚÚÚÚÚDEEEEEEEEEEEE!
Sabe quando o tempo vai parando? Meus olhos semi cerrados agora estavam prontos para abrir. E meu cérebro deu o comando para que eles se abrissem. E eles de fato se abriram. Mas foi só o tempo de ver o produto da minha arma na nuca do cidadão sentado logo à frente.
Instintivamente, levei a mão direita à boca e a esquerda à mochila. Bendita hora que a senhora, minha mãe, colocou uns lencinhos de papel dentro da mochila!
Meus olhos que antes estavam semi cerrados, agora se encontravam abertos, mas já estavam querendo se fechar. Enquanto minha mão menos habilidosa fuçava na mochila e a outra ia de encontro para aparar os escarros, presos na região nasal do rosto, meus olhos tornaram a se fechar. Por dois motivos:
O primeiro, era pra me livrar da sensação de torpor que fazia depois de disparar minha munição letal. Uma arma biológica. Quase como empunhar uma bazuca, disparar e depois ser arremessado pra trás... Uma tontura seguida de uma dorzinha de cabeça passageira, algumas alucinações de primeiro estágio.
O segundo, era a típica vergonha de um pré-adolescente depois de disparar tão covarde armadilha, sem motivos óbvios! Travar guerras em meio a uma sala de aula, pegando todos os possíveis inimigos desprevenidos é um tanto quanto imoral!
Mas mesmo assim, a moléstia estava solta pelo território. Um discursante me olhou de lado. Uma pessoa do meu lado fez uma expressão de nojo. Minha mão direita parecia não querer alcançar o nariz, o escarro estava pingando no caderno, a mão esquerda mexia escandalosamente na bolsa, atrás dos lencinhos de papel!
_Saúde!
Alguém gritou lá do fundo.
Minha mão direita finalmente alcançou o rosto e a esquerda finalmente encontrou os lencinhos.
Levantei-me olhando pra baixo. O caderno estava em condições lamentáveis. As zilhões de gotículas foram quase que exclusivamente pro caderno e uma parte pro cidadão da frente. Mas o escarro do ritual escatológico foi só para o caderno.
O cidadão também se levantou e ficou fazendo cara de nojo, enquanto o resto da sala ria da situação.
Que trouxas! A doença estava impregnada na sala! E eles RINDO?! Mereciam aquele ataque repentino! Antes de eu sustentar-me de pé, senti uma queimação na barriga e um calor no rosto. Os pêlos da nuca em pé. Fechei o rosto e saí da sala sem permissão da Mestra.
A sala e a comissão do Grêmio Estudantil ficaram lá, me olhando sair com as mãos no rosto, com o lencinho no nariz e, escondido, um sorriso no rosto!
FIM
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